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26 outubro 2010

A questão da existência de Deus - 1

Estou a ler o livro de Antony Flew, Deus (não) existe, publicado pela Aletheia. Um texto interessantíssimo e que aborda uma questão velhíssima - a existência de Deus. Flew é (foi) conhecido pelo seu ateísmo filosófico. Recentemente, como ele diz, converteu-se ao teísmo. Cito as palavras do autor: "Gostaria de salientar que a minha descoberta do Divino se desenvolveu num plano puramente natural, sem qualquer recurso a fenómenos sobrenaturais... Em resumo, a minha descoberta do Divino foi uma peregrinação da razão e não da fé" (p. 87). Um dos meus professores de filosofia, na Faculdade, costumava dizer-nos, no seu jeito exuberante, que o grande problema da filosofia era apenas um: a existência de Deus. Se Deus existe, existem absolutos; se Ele não existe, tudo é relativo e passível de ser questionado. Por exemplo, se Deus existe - o Deus no sentido aristotélico, como ser pessoal omnipotente, omnisciente, infinitamente bom - a moral não poderá ser uma questão meramente do âmbito convencional. A existência de Deus leva-nos a buscar os princípios eternos da moral.

Assistimos ao recrudescer da questão da existência de Deus e não só do fenómeno religioso. A questão de Deus volta a ser colocada no âmbito onde sempre esteve e donde nunca deveria ter sido erradicada - o pensamento racional. Obviamente, pensar Deus não é mesmo a coisa que crer em Deus ou praticar uma fé. Pensar Deus é pensar a possibilidade e conteúdo do conceito racional de Deus. Isso é trabalho da inteligência, que deve ser feito com probidade e um sentido urgente de procura da verdade. Há aportes das ciências biológica e física que nos podem ajudar na reflexão e discussão da questão de Deus, mas é à filosofia que cabe a reflexão séria e inteligente na procura de esclarecer o mistério, sem contudo o dissolver.

Deus existe e a sua existência é a garantia de que a vida tem uma origem e tem um propósito.

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