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27 outubro 2010

Afinal, Deus não morreu!

Nunca como nos últimos 30 anos, o debate sobre a existência de Deus foi tão intenso e intelectualmente tão estimulante. O que mostra bem como Deus nunca morreu, conforme chegou a ser proclamado por certos pensadores. Não, Deus não morreu, ou melhor, o tema da existência e da identidade de Deus não morreu. E não se pode dizer que isso se deva à religião. O debate está ao rubro nos círculos académicos e  nunca como agora se publicaram tantos e variados títulos sobre este tema. A questão da existência de Deus invadiu o espaço público. Não como algo que se impõe à consciência do indivíduo, obrigando-o a aderir à prática religiosa ou a rejeitá-la (aqui, lembremo-nos das sequelas da revolução francesa, sim, a tal da liberdade, fraternidade e igualdade), mas como algo que está aí, aberto ao debate e à adesão de fé. Os tempos que vivemos são fantásticos para uma pessoa decidir-se a fazer a jornada de descoberta da fé, pelo menos no âmbito da sociedade ocidental, onde a liberdade religiosa ainda é um dos valores fundamentais. Deus não morreu e nem pode morrer. Precisamos d'Ele. Afinal de contas, Ele é a causa primeira e única de existirmos. Como diz a Escritura: "nele nos movemos e existimos". A ausência ou a negação de Deus é a negação da própria dimensão espiritual e transcendente do ser humano, daquilo que faz que ele seja o que é, único, no âmbito do seres criados. 

26 outubro 2010

A questão da existência de Deus - 1

Estou a ler o livro de Antony Flew, Deus (não) existe, publicado pela Aletheia. Um texto interessantíssimo e que aborda uma questão velhíssima - a existência de Deus. Flew é (foi) conhecido pelo seu ateísmo filosófico. Recentemente, como ele diz, converteu-se ao teísmo. Cito as palavras do autor: "Gostaria de salientar que a minha descoberta do Divino se desenvolveu num plano puramente natural, sem qualquer recurso a fenómenos sobrenaturais... Em resumo, a minha descoberta do Divino foi uma peregrinação da razão e não da fé" (p. 87). Um dos meus professores de filosofia, na Faculdade, costumava dizer-nos, no seu jeito exuberante, que o grande problema da filosofia era apenas um: a existência de Deus. Se Deus existe, existem absolutos; se Ele não existe, tudo é relativo e passível de ser questionado. Por exemplo, se Deus existe - o Deus no sentido aristotélico, como ser pessoal omnipotente, omnisciente, infinitamente bom - a moral não poderá ser uma questão meramente do âmbito convencional. A existência de Deus leva-nos a buscar os princípios eternos da moral.

Assistimos ao recrudescer da questão da existência de Deus e não só do fenómeno religioso. A questão de Deus volta a ser colocada no âmbito onde sempre esteve e donde nunca deveria ter sido erradicada - o pensamento racional. Obviamente, pensar Deus não é mesmo a coisa que crer em Deus ou praticar uma fé. Pensar Deus é pensar a possibilidade e conteúdo do conceito racional de Deus. Isso é trabalho da inteligência, que deve ser feito com probidade e um sentido urgente de procura da verdade. Há aportes das ciências biológica e física que nos podem ajudar na reflexão e discussão da questão de Deus, mas é à filosofia que cabe a reflexão séria e inteligente na procura de esclarecer o mistério, sem contudo o dissolver.

Deus existe e a sua existência é a garantia de que a vida tem uma origem e tem um propósito.

22 outubro 2010

A mania de darmos a opinião

Um dos grandes problemas que temos é a mania de darmos ou de acharmos que temos que dar opinião sobre tudo e mais alguma coisa. É difícil resistir à tentação e à sedução de dar a nossa opinião. Opinamos sobre as decisões e opções do governo, sobre os culpados da crise actual, sobre os caminhos a seguir pelos governos para sair da crise... Opinamos sobre os nossos colegas de trabalho, sobre o que eles fazem e deixam de fazer, sobre a maneira como se comportam e vestem, e sobre tudo o mais que nos ocorrer e conforme o grupo... Opinamos sobre os nossos amigos, sobre a maneira como se vestem, sobre os seus hábitos de consumo (como somos especialistas nisto!!!!)... Enfim, somos seres de opinião e dificilmente achamos que podemos viver sem dar a nossa opinião. Convenhamos, esta mania de darmos opinião sobre tudo e todos tem sido, nos relacionamentos, um dos factores que mais contribui para o mal estar, os equívocos, os desentendimentos, os julgamentos dos outros, as suspeitas, a erosão dos relacionamentos, etc.. Não sei donde vem esta mania, mas suspeito que vem de uma visão exacerbada de nós mesmos e do nosso valor. Não nos damos conta do quão pouco sabemos e de como os nossos sentidos e as aparências são enganadores. Opinamos por vezes com tantas certezas que quase (pois, digo quase para aligeirar as coisas) nos julgamos com a omnisciência divina. Afinal, sabemos muito pouco e enganamo-nos muitas vezes. Nestas coisas, deveríamos não ir mais além do que a prudência, o bom senso, o amor e a inteligência recomendam. Jesus ensinou que o nosso falar, isto é, a nossa conversação deveria ser sim, sim e não, não, saindo das zonas nebulosas da opinião, do acho que, do penso que, parece-me, e por aí fora. Relembro as palavras do Mestre dos mestres: "Seja porém o vosso falar: sim, sim; não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna" (Mateus 5:37). Não acham que as coisas seriam muito melhores em simplesmente seguir este conselho do Mestre? Não é fácil, mas se tentarmos, cada dia podemos tornar-nos melhores pessoas e fazer deste mundo um lugar melhor para se viver.

21 outubro 2010

Segurança

O desejo de segurança - física, emocional, material - é um dos mais fortemente presentes no coração humano. A razão porque temos muita dificuldade em lidar com os tempos de crise e de mudança, prende-se com o facto desses tempos abalarem os alicerces sobre os quais assentamos as nossas vidas. Uma pessoa tem dificuldade de deixar o seu emprego e lançar-se num novo projecto profissional, porque não quer perder a segurança económica que o mesmo lhe dá. Queremos sentir-nos seguros... sempre. O problema está em pormos o foco no que é exterior. Procuramos a segurança nas coisas e nas pessoas que nos são externas: as circunstâncias, a família, o contrato de trabalho, o subsídio de desemprego, o que seja. Só que todas essas coisas são, também elas, efémeras, voláteis. Não são um bom fundamento para sentirmo-nos seguros. O sentimento de segurança é isso mesmo, um sentimento, um estado emocional, que criamos através dos nossos pensamentos. A forma como pensamos determinará o que sentimos. A verdadeira segurança é interna, é essa confiança gerada dentro de nós, que não depende nem de acontecimentos nem de pessoas. Depende isso sim da nossa relação com um Deus pessoal, amoroso, que se revela precisamente na interioridade do nosso ser, como o nosso Deus e o nosso refúgio. É essa relação com Deus - interna e pessoal - que tem o poder de desatar em nós o sentimento de segurança que nos leva a encarar os desafios da vida com confiança, ousadia e vontade de os abraçar e vencer.

19 outubro 2010

Saul e Sansão

Existem duas personagens na Bíblia assaz interessantes. Uma é Saul, o primeiro rei nomeado e aceite pelas tribos de Israel. A outra, é Sansão, uma espécie de super-heroi, com uma força descomunal para arrasar tropas inteiras, derrubar portas de cidades e carregá-las por quilómetros. Ambos têm a ver com oportunidades perdidas. Saul é claramente o exemplo de alguém que perdeu a sua oportunidade. Tornou-se o primeiro rei de Israel sem esforço. Simplesmente foi escolhido, as pessoas gostaram dele e sentiam-se seguras com a sua liderança. Mas falhou em realizar o propósito do seu reinado. Teve a oportunidade de deixar a sua marca na história, como um homem grande e de visão. Mas não, o que vemos é um homem inseguro, ciumento, sem visão de liderança. A sua história termina com uma morte sem glória e sem deixar qualquer legado espiritual. Já Sansão é outra história. Ele é outro exemplo de uma pessoa bafejada pela "sorte", diriam muitos. Forte, aliás, super-forte, másculo, determinado. Era popular como são as pessoas que se destacam do comum. A vida de Sansão foi um desperdício de força e de dons. Mulherengo, instável, mimado, acabou por nunca se afirmar como líder da nação. Era o incrível Hulk, chamado para dar cabo dos filisteus e impressionar com a sua força, mas sem estatura moral e espiritual para liderar quem quer que fosse. Todavia, Sansão, na hora da sua morte, toma consciência das oportunidades perdidas da sua vida. Podia ter feito tanto, com os imensos recursos que ele tinha, mas fez tão pouco. Pede a Deus que lhe dê mais uma oportunidade de realizar a sua missão de libertar Israel dos filisteus. É sincero. Quer, mesmo morrendo, cumprir a sua vocação de libertador. Deus ouve-o e devolve-lhe a sua força hercúlea, com qual derruba o templo pagão onde se encontra aprisionado, matando assim toda a liderança política e militar dos filisteus e matando-se a si mesmo, no acto. Com isto, desatou um momento para Israel libertar-se do jugo filisteu. A vida é feita de oportunidades e de momentos. Uns são aproveitados e dão fruto, trazem benefícios; outros, são desperdiçados, muitas vezes por a pessoa estar enredada no seu ego e nos seus prazeres. Nem todos são bafejados pela sorte, como Saul, nem dotados de recursos extraordinários, como Sansão, mas todos deparamos com oportunidades, janelas abertas no nosso hiato temporal, que podem abrir-nos dimensões de crescimento, realização e serviço extraordinárias. O importante é entrar por essas portas de oportunidade quando elas se abrem (ou quando somos nós mesmos capazes de as criar).

18 outubro 2010

Oportunidades

As oportunidades são portas que se abrem e que nos oferecem a possibilidade de realizarmos sonhos, superarmos limitações, transformarmos condições e dar um novo rumo às nossas vidas. Por natureza, as oportunidades são isso mesmo - oportunidades, momentos únicos, nos quais convergem diversos factores - pessoais e circunstanciais -  e que têm um período de vigência limitado. Tendem a esfumar-se, quando não aproveitados, mas a serem potenciados e a serem geradores de novas condições e estados, quando aproveitados. A acção inteligente, oportuna, pensada, decisiva e diligente é a condição incontornável para tornar as oportunidades em alavancas para sermos elevados a novos níveis de realização e felicidade pessoais. Que tal tornarmo-nos em detectores, potenciadores e realizadores de oportunidades? É que afinal elas são isso mesmo, oportunidades, momentos únicos, grávidos de possibilidades de mudança e de transformação.

01 outubro 2010

Há um futuro lindo de esperança

Existem momentos a vida de uma pessoa em que são mais as questões e a perplexidade que as acompanha, que as certezas e a confiança. Períodos de incerteza e de vulnerabilidade emocional. A pessoa sente-se como estando exposta e sem abrigo. Recebe a força dos ventos que sopram, sofre os rigores do tempo, sente-se perdida no meio do nada. Sem referências, sem horizontes, sem nada que alimente a esperança no seu coração. O que fazer em tempos assim, quando as certezas não passam de miragens e os sonhos deixaram de ser sonhados? São noites de escuridão, sem o consolo das estrelas e o encanto do luar. As noites sem estrelas e sem luar vêm às nossas vidas e vêm quando menos as esperamos. Num momento, impotentes, experimentamos a escuridão a cercar-nos e a envolver-nos. Lutamos para que essa escuridão não se apodere da nossa alma. Queremos mantê-la fora de nós. Porque sabemos que a pior escuridão é a que se apodera da alma. Quem ou o quê poderá iluminar as trevas da alma? Onde estará a luz que poderá dissipar as trevas da desesperança, do medo, da dúvida, da angústia? É então que posso ouvir as palavras da Escritura: "porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações..." (2.ª Coríntios 4:6). Que a Luz do amor divino ilumine as nossas almas, inundando-a de esperança, de gozo e de paz. Há um futuro lindo de esperança à nossa frente.