Páginas

27 agosto 2014

O medo da rejeição e a oração

Quando oramos, há um medo que precisa ser superado. Nem sempre nos apercebemos do mesmo. Não falo do medo de não ter a resposta, de não ver a oração a ser respondida. Trata-se do medo da rejeição. Medo que simplesmente não seja aceito por Deus, que Ele não apenas rejeite a minha oração mas também me rejeite, a mim. Ninguém gosta de ser rejeitado. Quando estudava no Seminário Teológico Baptista, preparando-me para o ministério pastoral, li um livro de Karl Barth sobre o rejeitado. Não era este o título, obviamente, mas o livro tratava do medo e da ansiedade do crente de não ser escolhido e aceite por Deus. O silêncio de Deus à nossa oração afigura-se-nos como evidência da sua rejeição. A essência da vida e da prática religiosas está nesse desejo e nessa necessidade de aceitação pelo Divino e Transcendente. Todos os rituais, todas as práticas e todos os atos de fé, têm apenas um fim: aceitação! E como o ser humano esforça-se e agiganta-se para ter essa aceitação. Quando oro, esse medo insinua-se. Será que o Pai me ouvirá, que aceitará a minha oração, que a minha causa será relevante e importante para Ele, que o leve a mover-se em minha direção, para ajudar-me e abençoar-me?

A Cruz de Jesus anuncia-me que SIM, Deus aceita-me. Ele aceita-me incondicionalmente. Não se trata do que eu faço ou venha a fazer, mas sim do que Ele já fez por mim, perdoando-me, escolhendo-me e aceitando-me como seu filho: "mas Deus prova o seu amor para connosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rom. 5:8). Esta pequena frase "sendo ainda pecadores", diz tudo acerca do amor incondicional de Deus. Sou amado e sou aceito. 

Orar é, pois, dar esse passo de fé confiante no amor e na aceitação do Pai. Não é a minha santidade que me torna aceitável. Tão pouco a minha virtude, a minha moral, os meus sucessos. Não e mil vezes não. É o que Ele fez por mim e por cada ser humano nascido e por nascer. A Cruz de Jesus é a grande e libertadora confissão que sou aceito e amado. O medo da rejeição insinua-se, é certo, mas posso vencê-lo, posso enfrentá-lo, dar-lhe luta, e entregar-me como filho amado nos braços de um Pai que me ama e, sim, que ouve a minha oração. Não, não vou desistir de orar e de esperar o melhor. Sou filho amado na Casa do Pai e o Pai diz-me: "Filho, tu sempre estás comigo e todas as minhas coisas são tuas".