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28 julho 2011

Coisas que aprendo com a crise - 1

Com a crise aprendo que, goste ou não goste, sou um ser dependente. Claro, que esta parece ser uma verdade evidente por si mesma. Mas sê-lo não quer dizer que compreenda todo o seu alcance. Nasci como um ser dependente. Cresci e tornei-me homem, sendo dependente. Com a maturidade fui alcançando níveis cada maiores de autonomia, sem que com isso deixasse de ser menos dependente. Na adolescência, encantava-me com as histórias dos super heróis. Heróis como o super-homem, batman, zorro, capitão américa (aí está o filme, tenho que ir ver) e tantos outros preencheram o meu imaginário e alimentaram, por vezes, as minhas efabulações. Encantava-me nesses heróis a sua independência e os recursos de que dispunham para vencer e ainda ajudar os demais a sairem dos perigos. À medida que fui tornando-me adulto e experimentava o meu poder para alcançar conquistas, pequenas e grandes, conseguir realizar o que me propunha, atingir objectivos estabelecidos, superar adversidades, tornei-me mais confiante na minha capacidade e autonomia. Aprendi que Deus criou-me com muitos recursos internos, habilidades e capacidades que, usados com sabedoria e persistência, podem alavancar-me a níveis crescentes de conquista e de realização pessoal. Mas, eis que surgem as crises. Crises pessoais, existenciais, do meu âmbito pessoal. Outras, externas, como a actual crise económica, política e social que vivemos, em Portugal e um pouco por essa Europa fora. A crise traz-me de volta à minha condição de dependente. Na verdade, nunca o deixei de ser e tão pouco pensei alguma vez ser independente. Descubro que a dependência, ao contrário de ser limitadora, é potenciadora de novas possibilidades de realização, de conquista e de crescimento. Aprendi que, justamente, quando me vejo dependente de outros, da vida, de Deus, é quando sou livre para ser eu mesmo, para aceder aos recursos que tenho dentro de mim, mas também aqueles outros recursos que recebo por partilhar a vida e o destino com as pessoas à minha volta. Aprendo que ao ser inter-dependente, dependente de outros, tanto quanto outros são dependentes de mim, acabo por aceder a múltiplos e infinitos recursos de sabedoria, de talentos, de conhecimentos, de capacidades, que me permitem ir mais além, não sozinho, tipo um heroi solitário, mas com outros, lado a lado, fazendo juntos, numa relação de ajuda mútua, esta grande e fantástica jornada da existência humana.